quinta-feira, 26 de junho de 2008

Técnicas de Observação


Ver não é olhar e escutar não é só ouvir...

É preciso sublinhar que a passagem do olhar para o ver e do ouvir para o escutar, ou seja a criação de uma atitude de observação consciente passa por um treino da atenção de forma a poder aprofundar a capacidade de seleccionar informação pertinente através dos órgãos sensoriais.
Por exemplo, dos ensinamentos de Baden-Powell pode extrair -se uma segunda característica do conceito de observação: é a de que saber observar, implica confrontar indícios com a experiência anterior para os poder interpretar.
Assim sendo, para qualquer investigador, este procedimento implica, três operações:
  • Saber identificar indícios, o que requer um treino continuado da atenção;
  • Possuir uma experiência anterior adequada, o que implica possuir uma boa preparação teórica e empírica;
  • Ter capacidade para comprar o que observa com o que constitui a sua experiência anterior e a partir daí poder tirar conclusões pertinentes, o que obriga a uma formação metodológica sólida.

Mesmo que possua noções/treino básicas em matéria de técnicas de observação, para cada projecto específico, o investigador, tem necessidade de planear a estratégia de observação a adoptar de modo a recolher os dados adequados economizando os meios.
Esta preparação da observação implica, antes de mais, responder a várias questões, designadamente:
- Observar o quê?
- Que instrumentos se deverão utilizar para registar as observações efectuadas?
- Que técnica de observação escolher?
Ainda neste contexto é importante referir que os indicadores surgem como filtros de informação, sendo que se pode definir operacionalmente indicador como um instrumento construído com o objectivo de revelar certos aspectos pertinentes de uma dada realidade, de outro modo não perceptíveis, com o fio de a estudar, de a diagnosticar e ou de agir sobre ela.
Os indicadores podem ser demográficos e económicos ou sociais.
Tanto os indicadores sociais quantitativos como os qualitativos, são construídos para atingir quatro objectivos concretos:

  • Retratar a realidade social nas suas facetas estrutural e dinâmica;
  • Revelar as percepções dos diferentes grupos sociais sobre o sistema social;
  • Planear a intervenção social;
  • Avaliar essa intervenção com clareza e rigor.


Existem várias formas de triplicar as técnicas de observação. Uma forma usual de o fazer é distingui-las de acordo com o envolvimento do observador no campo do objecto de estudo.
Assim temos:

A observação não - participante
Se o observador não interage de forma alguma com o objecto de estudo no momento em que realiza a observação. Este tipo de técnica, possui características interessantes porque reduz substancialmente a interferência do observador no observado; permite o uso de instrumentos de registo sem influenciar o grupo - alvo e possibilita um grande controlo das variáveis a observar. A sua aplicação no entanto é limitada, não só porque o equipamento adequado apenas está disponível em algumas instituições, mas também porque só se adequa a alguns objectos de estudo.

A observação participante
Para as situações em que o investigador tem de recorrer a técnicas de observação caracterizadas pelo seu envolvimento através da assunção de um dado papel social junto da população observada: são técnicas de observação participante.
Na participação participante despercebida pelos observados o papel que o investigador assume é ténue, passando completamente despercebido à população observada, sem que esse facto possa considerar-se incorrecto do ponto de vista deontológico uma vez que as situações observadas ocorrem em ambiente aberto (ex.: objecto de estudo - claques de futebol). Já em locais ou situações de acesso condicionado, a questão deontológico já se põe, uma vez que o papel de investigador não lhe dá o direito de assumir um estatuto semelhante ao do infiltrado, permitido a algumas polícias criminais. Na observação participante propriamente dita o investigador deverá assumir explicitamente o seu papel de estudioso junto da população observada, combinando-o com outros papéis sociais cujo posicionamento lhe permita um bom posto de observação.
Esta observação tem como principal vantagem a possibilidade de entender profundamente o estilo de vida de uma população e de adquirir um conhecimento integrado da sua cultura e como limitações a morosidade que tal técnica exige e as dificuldades que levanta a uma posterior quantificação dos dados.
Surgem então como aspectos relevantes a questão do papel social que se vai desempenhar como observatório e a questão da intensidade de mergulho.


Fonte: CARMO, H e FERREIRA, M. M.(1998) Metodologia da Investigação guia para a auto - aprendizagem, Lisboa, Ed. Universidade Aberta

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